sábado, 15 de agosto de 2009

lentes


quase em simultâneo, três das malhas com maior viabilidade comercial, tiveram direito a videoclips promocionais. como seria de esperar, os resultados estão longe de servirem os propósitos. supondo que estes passem por promover um objecto que se pretende bem sucedido. nada de novo, portanto. situação lamentável de um não esforço, principalmente quando se reconhecem alguns valores de produção e sabendo de antemão que o género nem sempre pauta pela sobriedade visual. tanto “go” como “daydreaming” falham em aproveitar as temáticas dos temas, para se limitarem a lugares-comum sem um fio condutor coerente. “go” ainda consegue melhores resultados, com toda aquela sequência óbvia na limousine a tentar trazer um pouco do sentimento de fuga do tema, mas nada disso chega quando a via é tão descaradamente displicente. “in the morning” teima em desaproveitar todas as pontecialidades de um setting madrugador, para se limitar à simulação de engate nocturno para a lente. e aqueles momentos com os gajos de smoking, só podem existir enquanto comic relief. e assim, entre planos interiores pseudo-cool e posturas irritantemente ascéticas, Londres vai desfilando uma mediania boçal.
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

família

como portadoras do mesmo código genético (2 step), não deixa de ser algo natural que o crescente (com reservas) burburinho em torno da funky, leve nomes provenientes da bassline a experimentar as convenções do género. a expansão para caminhos cada vez mais diversificados, campo aberto à redefinição, torna-o terreno maleável para obreiros experimentados (também o grime se vai desembaraçando timidamente). prefiro pensar em oportuno em vez de oportunista. talvez refrear os ânimos depois do frenesim de batidas e vozes refractadas. encontrar a teresa em produções funky dos x5 dubs e ts7 é não largar o cordão umbilical enquanto se apalpa terreno. mesmo que não subsistam quaisquer tiques bassline em "i wish" e "end with goodnight".
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a primeira consegue carregar toda a tensão latente do passeio nocturno para o acto celebratório. como se os reflexos difusos da bola de espelhos se confundissem com entropia. recorrendo a um template de sintetizador tão contagiante quanto ameaçador, que se repercute em diversas camadas (de tonalidades claramente grimey*), deixa que a voz da teresa se afogue em eco, como se vinda de e para nenhures. até se transmutar num todo-nuvem alienante/alienado. paranóia urbana estilizada. do melhor modo possível.
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se “i wish” não pretende confundir-se com uma canção de pleno direito, já a remix de TS7 para “end with goodnight” mostra um cuidado e atenção especiais na escrita. na linha de algumas remisturas dos crazy cousinz (a delicadeza da “i see you” com um ritmo inescapável a “go”**), nunca se dá a acrobacias rítmicas, optando por um esqueleto estável que permita encadear subtilmente diversos momentos numa mesma estrutura “básica”, na tradição de fuzzy logik (poder-se-á traçar algum paralelismo com a “call me”), sem a multiplicidade melódica destes. aquele break para congas depois dos la la la para relançar o verso antes do refrão é já formulaico, mas qual a necessidade de abrandar subitamente a batida no segundo refrão se as virtudes residem na naturalidade de processos? apesar dos intrincados devaneios vocais da teresa manterem o interesse ao longo da música, acaba por faltar uma certa marca autoral que torne a torne em algo memorável. e não deixa de ser uma boa (às vezes óptima) canção.
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*produções do rapid circa 2004. a dado ponto faz-se ouvir o som característico de "onorthodox daughter" (exemplo clássico desse limbo entre alienação/hedonismo)
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**reciclagem da batida já clássica da "do you mind"
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terça-feira, 11 de agosto de 2009

espaço(s)


recorrendo a uma simples linha melódica importada directamente de uma utopia futurista circa 1995 (orbus terrarum ou isdn), e alinhavando pequenos apontamentos percussivos (palmas, shakers, etc.) para lhes dar um corpo franzino com recurso a uma malha de baixo media-res orgânica, “spider” do wookie consegue subsistir de forma suficientemente digna sem nunca concretizar estas ideias, algo dispersas, em algo estruturalmente eficiente e/ou memorável. na senda de “messed” (mas com melhores resultados) ou (inexplicavelmente) “night”, deixa-se planar na sua própria rarefacção, para daí disparar nas diversas direcções sugeridas, sem nunca se definir. curiosidade carnavalesca (os assobios não mentem) cujos propósitos parecem nunca se revelar. por ora, chega-me essa confusão.
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“night time in july” do fingaprint, curiosamente, desenha na minha mente aquilo que o fábio apelidou de dubstep aquático. underwater dancehall do pinch poderia até mesmo ter sido isto, não fosse tão preso a militância dubstep. ecos dub e teclados líquidos em torno de uma linha de baixo, a simular relaxamento lounge. algo como “turbulence” para final de noite. no fundo, volatilidade nocturna de tonalidades estivais. basta atentar no título. é sucinto.
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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

amores de verão

contrariamente ao que tinha apontado aqui, “daydreaming” não se trata de uma produção dos crazy cousinz, mas sim de uma das suas metades (paleface). também cedo demais a releguei a mera versão diurna da “do you mind”. catarse vereneante feita de sentimentos nostálgicos, mas descaracterizada. sendo impossível escapar a comparações* e sem deixar de enverdar por essa mesma dicotomia (dia/noite), no entanto, "daydreaming" poderá ser facilmente interpretada como a sequela da melhor malha de 2008. entrando por caminhos ainda mais especulativos, gosto de pensar em "daydreaming" como o dia seguinte a "do you mind". O sábado esperançado (would you like to spend the night?) que dá origem à melancolia domingueira (daydreaming on a sunday afternoon).
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enquanto em "do you mind" a doçura da kyla disfarçava uma certa insegurança sob uma cortina, digamos, predatória como quem simula confiança (do you mind if i take you home tonight?), em "daydreaming" essa mesma voz deixa-se levar naquela apatia tão característica do domingo (daydreaming) sem nunca conseguir esconder o desespero (sun shining and i don`t know what to do). ambas cedem à tensão. essencialmente, "do you mind" alimentava-a com a esperança (if you play it right, you can be my guy) mesmo que subliminarmente esse medo se deixasse transparecer (stay another day entendido como um pedido). "daydreaming" entrega-se às memórias desse mesmo passado (you came to me, now i see the truth was make believe) como barreira à acção. o torpor. sonhar acordado (= lógico).
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construídas em torno de uma catchphrase enquanto premissa (the whole night e on a sunday), instrumental e estruturalmente, ambas parecem corrobar toda esta teoria, com "do you mind" a epitomizar toda essa paixão alienada de final de noite, enfatizada pelos ecos insistentes (enquanto resquício lounge), por oposição à melancolia solarenga que aparece no refrão da "daydreaming" e que a melodia de piano na ponte vem apenas confirmar enquanto tristeza.
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*na verdade, "daydreaming" parece falar sobre o amor enquanto algo inatingível, e não terá nada haver com a sua predecessora. no entanto, a mente (enquanto intérprete de sentimentos) leva às suas próprias contextualizações. gosto de pensar numa/na música como parte integrante da vida. logo, com história...i guess. o meu pedido de desculpas.
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