quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Pêras


"Mozart 3000" do Cotti com o Kromestar vem constatar um facto: a ansiedade de querer editar mais e novas coisas torna-se um acto pobre em inspiração. É preciso parar. De vez em quando. O Cotti, por um lado, tem mãos de fada na produção de riddims ("Dem Fi Know" com o Murkle Man e "Calm Down (Badman Ting)" com o Doctor são exemplos de divindade suprema e intocável), mas, no que toca ao dubstep, destaca-se um conjunto simbólico de quebras que o limita; o Kromestar, por outro, é sabichão no que toca às raízes do dub, mas é demasiado impulsivo no que edita. Há coisas que não deviam passar de dubplates ou do computador e, se o Kromestar já o fazia, o Cotti passa a ser característico por isso. É um erro pesado, mas que facilmente se evita. Espero.

"It's Yours" do Loefah foi reeditado, 12" com um único lado que já tinha sido lançado como promo. Remix de um tema titânico do T La Rock com o Jazzy Jay que é fiel à linha minimal do beat original, mas com o acrescento de um wobble monstruoso. A Boomkat prefere dizer: "Fuck me, this is so heavy".

31 de janeiro de 1984

depois do anúncio de lançamento de uma mixtape no início do ano de 2007, e consequente silêncio sabático a que se remeteu, president t regressa com um pobre vídeo de amadorismo caseiro em devoção ao tuning envolto nas manobras de marketing da boy better know (que parece actualmente mais interessada em vender t-shirts), e com presença "regular" no programa de logan sama. pelo que se pode ler no myspace, está efectivamente uma mixtape a caminho (março) em formato digital e gratuito, mas por enquanto, "a day in the life" relembra-nos a razão pela qual a sua ausência foi tão sentida ao longo do ano transacto. o seu fraseado único típicamente quebrado é aqui bem apoiado por um instrumental, que se por um lado mantém todas as premissas do grime, inclusive na sobreposição de 2 linhas de sintetizador idênticas mas em tonalidades diferentes, consegue ainda assim fugir ao hermetismo que a poderia atrofiar coadjuvando-se na perfeição com o prez.

domingo, 27 de janeiro de 2008

nervo na rua

goldielocks tenta nova aproximação ao grime desta feita com um cameo de frisco. infelizmente os resultados estão longes do nível atingido em "stereotypes". muito por culpa da afectação electro-desinteressada da própria em simulação cínica e a almejar a apatia (o que até consegue pelas piores razões), sobre um instrumental denso onde seria premente um pendor mais combativo nas vocalizações (a la warrior princess...talvez). se a pequena participação de frisco acaba por lhe conferir alguma dignidade, o refrão chega mesmo a ser insuportável.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

draft

se, por um lado a grande actividade que o grime sentiu ao longo de 2007, foi necessária (e consequentemente benéfica) para que o género não adormeça, por outro aumentou também proporcionalmente o número de mc`s e produtores que, apesar do desenvolvimento notório ao longo do passado ano estão ainda bem longe da desejada personalidade, que poderia justificar os elogios algo entusiastas que parecem receber. a "eterna" demanda pelo novo dizzee, qual ressurreição de cristo (e consequentemente do género na opinião de algumas mentes algo precipitadas) tornou o amadurecimento de vozes mais jovens (e menos dotadas) nada coadjuvantes com o tempo (sua essência) que este demora a atingir. parece que as lições a reter com o (flop) lethal bizzle não foram bem apreendidas pelas mãos inflamadas dos inúmeros bloggers e forenses dedicados ao assunto*. ao longo do ano transacto nomes como chipmunk, griminal, joker, young dot (aka dot rotten), ou maniac foram acariciados/odiados numa escala de tal forma exacerbada que as expectativas em relação a qualquer edição futura acabam por tão altas que não haveria maneira de contornar a óbvia desilusão (o entusiasmo parece padecer de contágio). a culpa acaba inevitavelmente por cair nos ombros dos próprios artistas, na medida em que a proliferidade com que pautam o seu trabalho (é de louvar a auto-edição em formato gratuito) é demasiada para que seja minimamente justificável.

com 3 mixtapes editadas, chipmunk parece ser o nome onde recaiem os maiores focos de atenção, a última "leage of my own" é demonstrativa da evolução que o menino (16 anos) tem tido, no entanto, exceptuando umas 5 ou 6 faixas mais fortes ("fire alie" é amor), falta ainda a chipmunk a consistência necessária para que possa arriscar um pouco mais, sem que soe minimamente forçado. no campo da produção maniac tem sido regularmente consistente, apadrinhando alguns hinos pelo caminho ("sorry u are", "duppy maker" ou "bow e3"), enquanto bless beats revela ainda ser demasiado derivativo. reunindo as duas facetas young dot revela-se para já o nome mais apto a marcar 2008, graças a uma muito recomendável (e surpreendentemente coerente) mixtape (de download gratuito) de nome "this is the beggining" que lhe valeu palavras elogiosas na coluna de martin clark na influente pitchfork.

já editadas este ano, as mixtapes de frisco e griminal granjearam-lhes alguma atenção/discussão nos meios mais dados ao grime. para "peng food", frisco (que não é propriamente um novato) faz-se rodear de grande parte dos seus contemporâneos (chipmunk, double s, et al), numa manobra que acaba por ser demonstrativa dos pontos onde estes newcomers falham. frisco demonstra mesmo assim uma maior desenvoltura que grande parte dos seus pares presentes (exceptuando como é óbvio o enorme killa p), num todo de produção regra geral eficaz, mas demasiado presa a motivos eski simplistas, apesar da presença de alguém tão influente como wiley. mesmo assim temas como "lyrical skeng", "smile for the camera" ou "dem never know" (vale mais pelo killa p) ainda conseguem trespassar algum entusiasmo para além da mediania. "dance", "mayhem freestyle", "it`s alot" e "not just bars" são o que de essencial se pode encontrar na desconjuntada "it`s not just bars" de griminal, perdidas por entre desajustados rips de rádio (onde se mostrou "em batalha" muito superior a chipmunk) e momentos inconsequentes como "number 13 freestyle". sem nenhum profissionalismo envolvido e de uma incoerência desarmante, a mixtape vale essencialmente como uma mostra (feita apressadamente mas de distribuição gratuita) do valor de griminal, que por esta altura parece destinado a ter alguma merecida relevância ao longo deste ano. mais do que uma simples linha a mencionar os nomes de black da ripper, cookie, brutal, lee brasco, macksta, double s e danny b é (por agora) pura perda de tempo.

*a presença regular no NME foi suficiente para muitos legitimarem o seu criticismo

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

...

tendo em conta a generalização que o lançamento de mixtapes (muitas vezes sem o mínimo de coerência) tem vindo a sofrer durante os últimos tempos, torna-se exasperante a "negligência" de membros do cada vez mais mutável colectivo roll deep. a ausência de edições de flowdan, riko ou (do colaborador habitual) tempa t em nome próprio tem sido colmatada com colaborações memoráveis e presença regular em sessões de rádio de cariz essencialmente guerrilheiro, no entanto, torna-se fundamental uma recolha de material seleccionado, em nome próprio como forma de compreender alguns dos momentos mais vitais na revitalização que este tem vindo a sentir nos últimos dois anos. em tempos recentes, a "guerra" entre flowdan e o ex-roll deep trim (embora o myspace da crew não confirme tal facto) ou a participação vocal de tempa t na nasa stageshow megamix de logan sama, têm sido demonstrativas da importância que estas vozes adquirem como pedras basilares das fundações daquilo a que se convencionou chamar de grime (sem discurso do tipo real shit) até porque foi nos estúdios de nomes como westwood ou logan sama que alguns dos momentos mais marcantes aconteceram (ligação umbilical entre o grime » rádio pirata). fora do éter rádiofónico, momentos brilhantes como as tão bem sucedidas parcerias entre flowdan e the bug ou o regresso ao lado mais combativo e contestatário do género em criações como "are you fucking crazy" ainda se fazem sentir com maior ou menor notoriedade, mas não deixa de ser notória a longa distância que separa coimbra (ou leiria, ou lisboa, etc...) de londres aquando de uma tentativa ridícula, mas necessária, de sumariar aquilo que de melhor se tem vindo a produzir sobre o smog da capital sem cair em mero pretensiosismo, quando documentos tão válidos como estes ainda não foram devidamente contextualizados numa obra que permitisse uma "análise" mais sumária e em última instância...minimamente realista.

numa nota pessoal: a partir de agora todas as minhas resenhas serão desprovidas de desnecessárias reticências.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Mantas e soalhos


Torna-se hábito remisturas reduzirem versões originais a pedacinhos de excremento. Exemplos: "Jah War" de The Bug e transformada pelo Loefah, "Punisher" do Pinch passada a limpo no Fruit Loops pelo Skream, a visão profética do Mala amplificada na "Cay's Crays" de Fat Freddy's Drop e, principalmente, a transcendência na versão do Loefah para a "I" do Skream. São casos do passado, mas a perspectiva tende a manter-se. O Distance pegou na "Far East Assassin" do Goth-Trad e, com um riff que, no original, se torna frágil pela fraqueza rítmica, compõe algo mais corpulento e rendível. Está muito longe das coisas que ele edita (elogio), sufocadas em distorção numa morte anunciada. Vai ser a próxima faixa que vou ouvir em loop quando estiver a voltar para casa, depois de uma noite de tiros, uísque e canasta.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

os maiores saldos

numa manobra cada vez mais usual...e até mesmo louvável (embora não deixe de ser uma manobra de marketing)...no lay vai disponibilizar a partir desta sexta feira (18) uma mixtape de download gratuito em jeito de aperitivo para a "verdadeira" mixtape "no comparisons" a sair em fevereiro...isto se não se derem os habituais e exasperantes adiamentos...estará disponível no myspace da menina...expectativas altas o primeiro lançamento daquela que já intitulei de verdadeira m.i.a....embora as faixas que estão disponíveis para escuta não trespassem o entusiasmo que esperava (o quase silêncio a que se remeteu pós-"run the road" ajuda a que isso aconteça)...seria criminoso deixar de saudar o re-aparecimento da voz feminina mais marcante do grime...ainda assim a aproximação ao hip-hop esquelético em "bars of truth" ou a continuação do veneno de "onorthodox daughter" debaixo de água encetada em "things could get ugly" são razões mais do que suficientes para confirmar que no lay continua a ser uma voz tão estimulante e incisiva como aquela que em 2002 mostrou como a violência vocal poderia dar origem à dança sem artifícios hedonistas e de punho no ar...

numa manobra idêntica...nomes recentes como young dot ou griminal (intitulada "it`s not just bars" já este mês) também disponibilizaram as suas mixtapes para download gratuito...o que para se dar a mostrar me parece bem mais viável do que atirar farpas para nomes "consagrados"...além de permitir acesso mais facilitado a quem não se encontra no epicentro dos acontecimentos...embora tudo isto faça parte daquilo em que se tornou o grime...é bom ver alguém a adoptar as lições de wiley quando este decidiu editar as duas primeiras edições da tunnel vision da mesma forma...

sábado, 12 de janeiro de 2008

versus

aparentemente a escrita de rimas de carácter ofensivo dirigidos a mc`s ainda servem como barómetros da popularidade a que um determinado mc se viu votado...essencialmente tendem a gerar polémica e por conseguinte gerarem exposição ao(s) seu(s) interveniente(s) sendo por isso uma manobra essencial para qualquer newcomer que se preze se dar a mostrar...obviamente que as escolhas recaem sempre nos nomes que atraem para si os focos de maior atenção...ghetto parece ter-se tornado o alvo mais utilizado por outros mc`s..."ghetto gospel" veio dividir as opiniões devido à sua aproximação ao hip hop (a velha história no true grime shit)...no entanto parece ser uma opinião generalizada que ghetto é efectivamente um grande mc...e com as expectativas altas em relação ao projecto "freedom of speech" com smasher and lewi white (a sair no primeiro semestre)...foi uma escolha óbvia para p money fazer o seu statement of intent...algumas destas "batalhas" ainda conseguem resultados dignos de nota (a lendária wiley vs dizzee...por exemplo)...faltam no entanto a p money rimas decentes ou uma habilidade vocal que esconda esta sua falha...além de uma produção rotineira de jendor que não ajuda muito a que se queira ouvir isto mais do que uma vez...espera-se resposta de ghetto (se bem que a probabilidade de passar incólume é grande)...

outro dos mc`s merecedor de atenção em 2007 foi jammer (que também se batalhou com ghetto não curiosamente)...com os seus créditos já firmados no que diz respeito ao seu trabalho como produtor...o murkle man mostrou alguma habilidade rímica e um fraseado estimulante atrás do microfone ao longo do ano passado...com espaço para evolução pode-se vir a tornar num óptimo mc...no entanto falta-lhe ainda a desenvoltura para que se justifique a sua ida para a big dada...principalmente com nomes como trim, durrty goodz ou mesmo ghetto remetidos ao underground (e tem-se sentido a falta de bruza)...a auto-edição ou a escolha de editoras independentes ainda é uma óptima (e necessária) forma do género subsistir (e basta ver a notoriedade que a boy better know tem vindo a atingir)...mas não deixa de ser discutível que quando um nome do grime é "presenteado" com um contrato (e parece já não haver aquela obsessão pós-dizze/kano/lethal b...felizmente) este recaia num nome que embora agradável e até mesmo marcante ("murkle man" é clássico) se confina a uma reciclagem constante das suas própria linhas (skepta também parece cair neste erro ultimamente) e não seja de forma nenhuma um dos maiores obreiros na revitalização do género...espero estar enganado em relação a isto mas aguardo pelo álbum a sair este ano para o confirmar...ou não

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

apontamentos

muito provavelmente será de conhecimento geral...mas apenas hoje me deparei acidentalmente com esta wikipedia do grime...o planeamento e contribuição de elementos do forum da rwd magazine traz-lhe alguma credibilidade...e para um projecto com cerca de 3 meses contém já uma dose de informação bastante decente (a juntar ao facto de ser actualizada com bastante regularidade por agora)...não sendo um retrato extensivo e detalhado não deixa de ser de alguma/bastante utilidade como base de dados (em mutação) do género...e ideal para newcomers certamente...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

arrumações

Acho que está tudo dito no post abaixo...acima de tudo espera-se grande cumplicidade entre os dois "campos"...este blog talvez seja um bom exemplo disso...sem ordem alguns temas e discos marcantes:

discos:
burial - untrue
durrty goodz - axiom ep
v/a - box of dub 2
trim - soulfood vol. 1
joker - kapsized
tinchy stryder - star in the hood
ny - split endz vol. 1

faixas:
durrty goodz - switching songs pt. 2 / license to skill / axiom
skepta - in a corner
t2 - heartbroken
mala - lean forward
joker - grimey princess
cult of the 13th hour - wickedness
dizzee rascal - pussyhole (oldskool) / flex
burial - etched headplate
ruff sqwad ft. maxwell - from a place
chipmunk - fire alie
roll deep - weed man
the bug - jah war / poison dart

props para a "nasa stageshow riddim megamix" (tempa t, jammer, flowdan & killa p, etc...sobre o "stageshow riddim" de skepta) e mixtape "anger is a gift" que podem orientar no mui recomendável prancehall

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Sniff


2007 foi a prova de que o dubstep não acumulou pó após o hype dos anos anteriores e a certeza de que o grime nos saciará como o aquecedor dos nossos quartos. A natureza darwinista ainda prevalece nas nossas vidinhas, daí ser perfeitamente legítimo destacar algumas das faixas que mais marcaram o ano que passou.

As oito mais do grime:

Roll Deep, "Weed Man"
Wiley, "Flyboy"
Cotti, "Erkle Riddem"
Durrty Goodz, "Keep up"
JME, "Missin"
Kano, "Bad Boy"
Tinchy Stryder, "Sorry U Are (feat. Chipmunk)"
Skepta, "In A Corner"

As oito mais do dubstep:

Cotti & Cluekid, "Flashback"
Digital Mystikz, "Thief In Da Night"
Benga, "Emotion"
Distance & Skream, "Political Warfare"
Loefah, "Boilersuit"
Dusk & Blackdown, "The Bits (feat. Trim)"
Peverelist, "Roll With The Punches"
Mala, "Changes"