quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Há papoilas


Já não há feuds como antigamente. Impossível fugir ao alarmismo: a lyrical war ("guerra lírica" é uma expressão feia) entre o Mavado e o Vybz Kartel está a tornar-se perigosa. O risco de alienar o público é enorme e já vem de trás. A guerra entre o Bounty Killer e o Beenie Man ainda molda o dancehall moderno, dividindo-o. De repente, tudo gira em torno de díades: Alliance/Portmore, Gully/Gaza, Mavado/Vybz. Obviamente, uma rivalidade tão linear e demarcada turva mentalidades. Os dois deejays perderam a voz de alerta aos fãs, que se envolvem em sucessivas batalhas pela honra de quem prezam. Não há memória de feud semelhante. Bounty VS Beenie nunca pisou o risco, embora o tratado de paz que foi o Sting em '95 tenha sido apenas e só poeira para os olhos. Mesmo criando um ambiente bastante tenso na edição de '93, o Bounty escolhe as palavras certas quando, no final, descreve o soundclash como um «jogo» de «estilo», sem «controvérsia». É por isso que, agora, decide intervir para controlar os ânimos. Sabendo que uma guerra não se resolve por rodriguinhos, desafia os sucessores, não só a respeitar as regras - muitos dos incidentes que têm surgido na imprensa jamaicana envolvem a entourage dos dois artistas -, como a evitar a polarização radical da sua audiência. O que não o impede de combater, claro, com as devidas retaliações. Vejo dois cenários à vista: um novo Face to Face e a próxima edição do Sting com Mavado VS Bounty Killer VS Vybz Kartel.