terça-feira, 9 de setembro de 2008

Ciência em trauma


OK, o Busy Signal passeia agora por chão forrado a ouro, céu pertíssimo da nuca. Loaded acrescenta nada para quem o conhece, serve apenas um propósito legítimo: projecção. De repente, milhares de olhos brilham perante uma descoberta que já respira há uns belos tempos. É natural que se pense:

«Ei, chegou a fase em que não mais o veremos em aventuras, antes estranhamente curvado num sofá confortável" ou "Duvido que, quando lhe perguntarem se continuará a surpreender, pisando constantemente a linha vermelha, ele faça mais do que fechar os olhos, apontar os indicadores para trás e dizer "Se é isso que queres, mantém-te na minha obra antiga, está lá tudo."»

Mas não. Basta avaliarmos a ida ao Westwood. Talvez resultasse melhor se houvesse uma caçadeira apontada ao Lloyd para acalmar os seus ânimos e tiques - não vou ser cruel ao ponto de dizer que não quero ouvir falar dele nos 200 anos que se seguem -, mas o que importa é que o Busy é mágico na prestação. Por razão divina, os atropelos e os erros que vai cometendo fortalecem o flow e dão uma cadência fabulosa às melodias. A espontaneidade que transmite é notável quando resolve entrar num jogo de moldagens, colando letras em diferentes riddims. Como se sabe, há um sem-número de artistas no dancehall que vestem a capa do talento sem merecê-la. Fecham-se no estúdio - a sua salvação - e, no momento de subir ao palco, muitas das fraquezas são postas a nu (não são poucas). Mas ele não (eis a honestidade em pessoa); mesmo que as tenha, passam por nós sem nos apercebermos, precisamente por mostrá-las sem pudor (eis a humildade em pessoa). E assim permanecerá.

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