quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

somália

se aqui já tinha referido a falta que se sente de uma maior promiscuidade entre a música jamaicana e o grime, o que se torna algo estranho se tivermos em conta a influência divina que esta teve sobre grande parte da música electrónica e alguns movimentos mais transgressores ingleses (a brixton do post-punk ou o trip hop de bristol), também nunca pensei que esta soasse tão bem submersa no tantas vezes sofrível autotune da voz. "from day" do double s ou "burn dem" de badness (um dos poucos nomes devotos ao legado jamaicano) são exemplos recentes de como este efeito pode atingir belos resultados, mas é "calm down" de doctor que atinge o zénite. a produção de cotti alicerça-se numa batida reggae-lite adensada às custas de diversos layers de percussão, compensando a ausência de linhas melódicas com o tenso serpentear do wooble de baixo. o refrão chega mesmo a atingir um encantamento agri-doce para se deixar habitar no cérebro e toda a vocalização de doctor se coadjuna com a ligeireza aparente de uma tema que atinge proporções épicas sem para isso recorrer a artifícios pomposos e vazios de conteúdo. o melhor exemplo de como a cadência do dub pode servir tão bem os propósitos do grime desde "xtra" dos ruff sqwad é capaz de ser o maior elogio que posso lhe posso fazer.

1 comentário:

diogo disse...

para uma bom exemplo dessa promiscuidade ouve a 'joyride' de neckle camp/slew dem, se ainda não conheceres. está na mixtape deles de há uns 2 anos, straight necklin.

para maus exemplos, tens a 'serious times' na mesma mixtape, que sampla a malha do gyptian e aquela de rossi b & luca/nasty crew que sampla a 'welcome to jamrock' do d marley. ambas conseguem estragar dois clássicos (a 'joyride' funciona sobretudo porque o riddim original é pouco alterado). e a 'a earth a run red' do coki é possivelmente a pior música de sempre (notável porque a vocalização no original do richie spice que ele usa é incrível)