quarta-feira, 12 de agosto de 2009

família

como portadoras do mesmo código genético (2 step), não deixa de ser algo natural que o crescente (com reservas) burburinho em torno da funky, leve nomes provenientes da bassline a experimentar as convenções do género. a expansão para caminhos cada vez mais diversificados, campo aberto à redefinição, torna-o terreno maleável para obreiros experimentados (também o grime se vai desembaraçando timidamente). prefiro pensar em oportuno em vez de oportunista. talvez refrear os ânimos depois do frenesim de batidas e vozes refractadas. encontrar a teresa em produções funky dos x5 dubs e ts7 é não largar o cordão umbilical enquanto se apalpa terreno. mesmo que não subsistam quaisquer tiques bassline em "i wish" e "end with goodnight".
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a primeira consegue carregar toda a tensão latente do passeio nocturno para o acto celebratório. como se os reflexos difusos da bola de espelhos se confundissem com entropia. recorrendo a um template de sintetizador tão contagiante quanto ameaçador, que se repercute em diversas camadas (de tonalidades claramente grimey*), deixa que a voz da teresa se afogue em eco, como se vinda de e para nenhures. até se transmutar num todo-nuvem alienante/alienado. paranóia urbana estilizada. do melhor modo possível.
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se “i wish” não pretende confundir-se com uma canção de pleno direito, já a remix de TS7 para “end with goodnight” mostra um cuidado e atenção especiais na escrita. na linha de algumas remisturas dos crazy cousinz (a delicadeza da “i see you” com um ritmo inescapável a “go”**), nunca se dá a acrobacias rítmicas, optando por um esqueleto estável que permita encadear subtilmente diversos momentos numa mesma estrutura “básica”, na tradição de fuzzy logik (poder-se-á traçar algum paralelismo com a “call me”), sem a multiplicidade melódica destes. aquele break para congas depois dos la la la para relançar o verso antes do refrão é já formulaico, mas qual a necessidade de abrandar subitamente a batida no segundo refrão se as virtudes residem na naturalidade de processos? apesar dos intrincados devaneios vocais da teresa manterem o interesse ao longo da música, acaba por faltar uma certa marca autoral que torne a torne em algo memorável. e não deixa de ser uma boa (às vezes óptima) canção.
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*produções do rapid circa 2004. a dado ponto faz-se ouvir o som característico de "onorthodox daughter" (exemplo clássico desse limbo entre alienação/hedonismo)
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**reciclagem da batida já clássica da "do you mind"
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